domingo, 3 de agosto de 2008

Sejam Bem vindos

Caros alunos

Sejam todos bem vindos à disciplina de Cultura Brasileira.
Aqui vamos fazer uma viagem por dentro do Brasil. Discutir o que somos, nossas bases culturais, o comportamento de nossa sociedade, aquilo que nos faz singular. Esse blog é um dos espaços da disciplina para discurtirmos os textos, postarmos nossas idéias e socializarmos o que pensamos. Usem essa ferramenta para gerarmos o debate e assim mais conhecimento. O êxito dessa disciplina está em nossas mãos. Um abraço. Prof. Eduardo Neto

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A cultura como realidade

Meus caros, essa é uma discussão crucial para o debate do tema " cultura"


Tem muita gente que não ´acredita´ em cultura. Para quem pensa assim, há povos sem cultura, como haveria pessoas ´sem personalidade´. Um psicólogo diria que ser triste ou apagado não seria sinal de ausência, mas de presença e um certo tipo de personalidade. O mesmo ocorre com o conceito de cultura.

Todas as sociedades têm cultura, mas nem todas têm as mesmas artes e, sobretudo, a tecnologia capaz de destruir o ambiente, as outras sociedades ou o planeta.Por isso, poucas tomam seus hábitos de vida como o supra-sumo do refinamento e da ´civilização´. No Brasil, confundimos ´cultura´ com ´civilização´ e ambas com refinamento, de modo que deixamos de problematizar certos costumes locais como o nepotismo, o poder como segredo, a condescendência, situando-os como costumes a serem automaticamente erradicados pelo advento civilizatório.

Não há dúvida de que boas instituições e leis engendram boas condutas, mas como estamos fartos de saber, nem sempre o governo esperado, o partido político que traria a utopia, o regime mais ´civilizado´ se vê livre dos velhos costumes que insistentemente retornam.Não se deve inventar a roda, mas os processos de mudança efetivos só ocorrem quando algo de dentro se combina com alguma coisa de fora. Por exemplo: uma economia globalizada, dinamizada por técnicas que demandam transparência, pressiona hábitos sociais implícitos - por exemplo, o nepotismo, a condescendência e o segredo como apanágio do poder, tornando-os discutíveis e promovendo sua transformação.

Como é possível saber instantaneamente todos os meus telefonemas e não saber quanto o prefeito da minha cidade gasta com seus assessores?Se adotamos a racionalidade como centro do gerenciamento público, como calar diante de um governador que leva a sogra numa viajem para o exterior num avião fretado, a pedido de sua jovem esposa? Seria o retorno um sintoma de imutabilidade? Penso que não. Mas isso não significa que é fácil substituir hábitos tidos como naturais por outros, vistos como mais práticos ou racionais.Um caso de desentendimento cultural exemplar foi o da Fordlândia.

Vale relembrá-lo neste momento em que a agressão à floresta amazônica e aos seus habitantes tradicionais fazem a mídia. Ademais, ele é instrutivo, porque ocorreu num contexto geral de promoção do progresso econômico, dentro de uma motivação industrial e não política ou ideológica.No fim da década de 1920, o magnata Henry Ford, decidiu ser auto-suficiente em matéria de borracha. Implantou, na região do Rio Tapajós, em plena Amazônia, numa área de 10 mil quilômetros quadrados, a Fordlândia. Ali, a floresta amazônica e seus habitantes foram submetidos aos meios de produção cultural de Detroit. Em plena mata, surgiu uma comunidade na qual os prédios principais eram a biblioteca, o hospital e um campo de golfe, não a igreja ou o palácio do governo. Tal como na Ford, todos foram obrigados a usar um distintivo de identidade.

A jornada de trabalho, que era marcada pela coleta do látex e não por hora, passou a ser de como a da fábrica: de 9 às 5. Se os automóveis Ford saíam de esteiras, as seringueiras que produziriam a borracha seriam plantadas em linhas, não em blocos, como seria desejável. A invenção de um espaço ideal - estilo Brasília, cidade para uma sociedade sem classes - levou a imaginar uma comunidade do meio-oeste americano: monogâmica, sem álcool ou fumo (estávamos em plena lei seca americana que durou de 1920 a 1933), mas com clubes de leitura de poesia e de canto que substituíam as festas locais.O extremo, porém, ocorreu na comida. Banida a comida amazônica - peixes, pirões e caldos -, comia-se não em pratos, mas em bandejões que individualizam o alimento, alface, tomate, batatas, ervilhas e, principalmente, espinafre.

Servida sem sal ou ´tempero´; sem a vestimenta de ´pratos´ e comensalidade, a comida foi o ponto de partida para uma violenta revolta dos operários. Rebelião pelo gosto e pelos costumes, não pelo horário de trabalho ou salário.A revelar que a ´cultura´, quando mexida de fora para dentro em pontos sensíveis (mas insuspeitos), adquire realidade e poder. Aquilo que para os engenheiros da Ford era um exemplo de refinamento e racionalidade, tornou-se para os trabalhadores locais um explosivo traço de intolerável humilhação. Afinal, como diz o velho ditado, nem só de economia, digo, de pão vive o homem.

Texto publicado no jornal Diário do Nordeste - 14/05/2008
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=537297

terça-feira, 10 de junho de 2008

QUE BRASIL É ESSE?



Conforme estamos acompanhando estes últimos dias pela mídia televisiva, em Salvador na na Penitenciária Lemos Brito, na Bahia aconteceu algo no mínimo inédito no planeta terra.

Um detento de apelido "perna" tinha algumas relaias que nem eu que trabalho todos os dias os dois espedientes e até mesmo os finais de semana tenho.


Ao chegar a PF (Polícia Federal para executar o mandato de prisão ao "preso" depararam com uma plaquinha tímida mas bem notória uma mensagem que era para todos, inclusive o diretor do presídio.


"NÃO ENCOMODE. ESTOU COM VISITA"


Simplesmente perfeito, para uma pessoa muito ocupada como ele e que tem muitos compromissos em sua agenda cheia de visitas íntimas de personalidades da sociedade local como: mulheres de programa, advogadas, amigos em horários que não seriam possíveis a outro preso.


Em seguida os policiais pediram a chave da cela do "empresário traficante" e o carcereiro simplesmente disse que ficava sempre com o preso, é ou não é uma vida que todo marginal sonha em ter. Continua a executar seus crimes mas com a asa do estado cobrindo todas as despesas e protegendo o "empresário-traficante", isso dá um zoom profundo em nosso sistema judiciário que não existe, não faz valer sua ordem e muito menos o seu respeito.


Vou agora listar o que foi encontrado na "Casa-cela" do empresário:


R$280.000,00 (sim, duzentos e oitenta mil reais) em dinheiro vivo;

• aparelho de ginástica;

• geladeira duplex fartamente abastecida (com energéticos e cervejas);

• duas pistolas 9 milímetros;

• lista com nomes de pessoas marcadas para morrer;

• TV e DVD;


Isso é apenas um pouco que o coitado tinha em sua residência ou cela, perdão!

Chegamos ao ponto de um diretor de um presídio brasileiro concordar com uma situação destas no sistema carcerário, não temos um 1% de noção do que acontece em nossos presídios e peneteciárias, somente algo que explode e chega aos ouvidos da mídia.


Depois tem gente que chega a estudar 12 anos, passa sua vida toda pagando os impostos e não tem seu direitos garantidos. É realmente de se lamentar e orar apenas.


Só a critério de informação, cada preso no Brasil custa em média R$1.300,00. Lá, cada um custa cerca de R$4.000,00 (os que estão em regime disciplinar diferenciado, o popular RDD).É o preço que a sociedade tem que pagar para mantê-los longe das ruas.


Abraços e até a próxima!

Mailton Mendonça


segunda-feira, 9 de junho de 2008

"Você sabe com quem está falando?"


Se no Brasil as filas são longas (de banco então, nem se fala...), os furadores-de-fila são proporcionalmente numerosos e especializados. Não interessa saber com quem se fala de quem o outro é filho ou entender aquele brasão de alguma-coisa-federal. Zé Ninguém morreu na fila e sem saber de nada, coitado. Não adianta Sérgio Buarque de Hollanda elucidar as Raízes do Brasil, se os galhos ainda são os mesmos. Ou alguém acha que Pedro Álvares Cabral pegou fila pra entrar na caravela? ( sim! Até naquela época se valia pelo o que tinha ou era!).
Então li uma notícia que me lembrou, meu caro "amigo" Sergio Buarque de Hollanda
Marta Suplicy, em viagem à França, resolveu que também ela tinha o direito de não enfrentar a fila para ter sua bagagem checada no aeroporto, ainda no Brasil. Afinal, ela é a Ministra do Turismo, minha gente!Entretanto, essa história teve final feliz: o comandante se recusou a decolar sem que a bagagem da ex-prefeita fosse checada, diante do protesto de outros passageiros. Viva o bom senso!
Inara Brito

Como dar um jeito no jeitinho brasileiro?

O jeito, ou o jeitinho brasileiro, é a imposição do conveniente sobre o certo. É a "filosofia" do: se dá certo é certo; desde, é claro, que "dar certo" signifique "resolver um problema", ainda que não definitivamente. Assim é o brasileiro: dá jeito em tudo. Sua versatilidade abrange um sem-número de situações: é o pára-lama do carro amarrado, em vez de soldar; são os juros embutidos no valor da prestação "fixa"; é o "dar um por fora"; é matar a avó pela quinta vez para justificar a ausência a uma prova, na escola. Mas o jeitinho é também pedir a um médico amigo para atender uma pessoa carente ou para fazer uma cirurgia pela Previdência; é o revezamento dos vizinhos para socorrer uma pessoa doente; é conseguir um emprego para um pai desempregado. O dilema está lançado! Que dizer, então, do jeitinho? Podemos fazer uso dele para resolver as questões do dia-a-dia? Será que todo jeito é desmoralizante, ilegal, burlador, inconveniente? Ou será que ele também pode ser criativo, solidário, benevolente? É esta discussão que eu lhe convido e desafio a participar.

Jessica Martins Fernandes

Jogo de interesses

Caros. vejam matéria muito interessante publicada no jornal O povo de domingo, 08 de junho de 2008. caderno Politica. O jogo de interesses reflete um " toma lá da cá" do sistema politico brasileiro.
Quem quiser uma boa discussão sobre o assunto poder ler os textos de José de Souza Martins no livro O poder do Atraso.

Política
JOGO DE INTERESSES
Apoio em coligações vira moeda de troca
Nas eleições, o apoio partidário tem como pano de fundo a troca de benefícios em pleitos futuros e a distribuição de cargos, o que tornam os critérios para alianças ainda mais subjetivos



Elas não têm função direta no voto dos eleitores de Fortaleza, mas são as alianças que garantem a estrutura política, partidária e financeira para engatar as candidaturas. Um dos principais cabeças do arco de aliança de Luizianne Lins (PT) pela reeleição em Fortaleza, o presidente estadual do PMDB, Eunício Oliveira, sustenta que a opção pelo apoio à petista vem desde 2004, na primeira campanha da atual prefeita. Mesmo que o partido tenha saído com candidato próprio, Aloísio Carvalho, e, no segundo turno, a chapa petista tenha declarado rejeição à adesão peemedebista. O motivo do confronto com a petista, quatro anos atrás, segundo Eunício, teria sido o ex-prefeito Juraci Magalhães (então PMDB, hoje PR). "Nós tínhamos o partido comandado pelo ex-prefeito Juraci Magalhães. Apoiei Aloísio por uma questão partidária. Ele (Juraci) lançou um candidato, mas o abandonou no meio do caminho. Em função desse abandono, ele foi obrigado a deixar o PMDB, que já apoiava o presidente Lula", explicou Eunício. A rivalidade de 2004 gerou o distanciamento do PMDB dos cargos administrativos da Prefeitura. Este ano promete ser diferente, caso Luizianne se reeleja. "Neste primeiro mandato, o PMDB não tinha legitimidade para participar, mas agora o partido está apoiando Luizianne", destaca Eunício. "Não há nenhuma insatisfação. Pelo contrário. Não apoiamos pelo projeto de poder, mas pelo projeto para Fortaleza. Não fiz acordo para isso ou aquilo", garantiu Eunício, que, mesmo afirmando isso, fechou acordo com o PT pelo apoio à sua candidatura ao Senado Federal em 2010. "Nós não discutimos nenhuma participação no governo, mas sim no campo da política. Em 2010, o PMDB quer a contrapartida do apoio na chapa majoritária. Foi uma discussão programática, não pragmática", assegura o peemedebista. Âmbito nacional O secretário-geral do PT, Antônio Carlos de Freitas, destacou que a coligação pela reeleição petista está pautada nas relações políticas do partido em âmbito nacional. "Não é uma aliança baseada em interesses menores ou locais. Alianças que se dão dentro da política paroquial: 'eu te apóio aqui, você me apóia ali'. Não temos uma pretensão meramente hegemonista", argumentou Antônio. O petista garante que a composição com o PMDB, assim como com demais partidos que fizeram oposição ao PT nas eleições passadas, sofreu modificações internas, aproximando-se das orientações petistas nas eleições. "O PMDB participa do governo Lula, dá sustentação na Câmara Federal e isso teve influência nas composições locais". (Marcela Belchior)
Link: http://www.opovo.com.br/opovo/politica/794948.html

domingo, 8 de junho de 2008

A normalidade da malandragem.

Um dia desses eu estava assistindo ao CQC (programa jornalístico/humorístico da band) e tava passando uma matéria em forma de pegadinha. Consistia no seguinte: O apresentador deixava um celular no meio da calçada e ficava filmando de longe para ver quem pegava. Assim que a pessoa pegava o celular, eles ligavam para aquele número e diziam que tinham perdido aquele celular e que gostaria de saber onde a pessoa estava para devolvê-lo.
Eu diria que a matéria foi ilária (coisa que eu não deveria achar diante da gravidade da situação) pois a grande maioria das pessoas mentiam o lugar onde estavam para não devolverem o celular. Eis alguns exemplos:

Repórter: Boa tarde, é porque eu perdi este celular, a gente poderia marcar um canto pra você me devolver?
Vítima1: Cara, eu ja estou na Av. Paulista, de carro em um engarrafamento enorme. Você pode ligar depois para eu te devolver? (Ele estava a pé, do outro lado da rua que a equipe de reportagem estava)

Vitima2: Este celular é meu, eu o comprei semana passada, deve ter acontecido algum problema com o número que está vindo pro meu.

E a mais bizarra:
Uma mulher pegou o celular e colocou no bolso. A equipe ligou e ela nao atendeu, daí a equipe foi ao local que ela tinha entrado(o cabelereiro onde ela tranalhava) e falaram, mais ou menos, assim:

Repórter: Boa tarde, a senhora acha que o povo brasileiro é um povo honesto?
Mulher: Depende da situação, mas eu acho que em geral sim.
R: É porque a gente perdeu um celular, a senhora não o viu?
M: Não.
R: A senhora tem certeza que não viu? Porque nós estamos fazendo uma matéria sobre a honestidade do povo brasileiro e deixamos um celular no chão para ver se a pessoa que encontrasse devolvia ou não o celular.
M: Pois eu não achei não.
R: Mas a gente viu você pegando, olhe aqui as imagens.
(Mostraram na camera ela pegando o celular)
M: Não sou eu, não.
R: Como assim não? Está aqui a prova!
Amiga da Mulher: Risos, vocês estão fazendo este teste no país errado.
M: Pois é, não sou eu não. E achado não é roubado.

Resumindo a história:
Eles tiveram que chamar um policial, mostraram as imagens pra ele e obrigaram ela a devolver.

Ai eu pergunto... Onde a gente vai parar?Como é que um povo cobra a honestidade de um político se nem ele mesmo é? E destaco uma expressão exitente na cena: "vocês estão fazendo este teste no país errado.". Até o povo sabe que todos são desonestos. Concluindo.. O brasileiro é malandro, se acostumou com a malandragem a ponto de achar que isso é normal. E o pior, é que se eu fizer uma pergunta a você caro leitor, talvez você hesite na resposta.
Você devolveria?


Everardo Filho